28 de janeiro de 2013

Nunca mais


Se minhas palavras fossem pássaros, as soltaria após uma breve hesitação. Porém, se os pássaros se tratassem de corvos, os reuniria nos umbrais de meu quarto, enquanto sorrio de melancolia e profiro acusações vulgares. Apenas torceria para que minhas palavras pudessem moldar, ao menos que abstratamente, o vazio e silêncio que criei dentro de mim. Só então sentiria um lampejo. Talvez, se tratasse de uma sombra de felicidade que os acontecimentos me forneceram. Mas felicidade já está fora de cogitação. Quando jovem - jovem, ah, como eu era jovem! - abracei a insanidade em um pranto. E não da forma que se acolhe a alegria. Tudo que senti foi um vazio que julgava ter certeza do que fazia. Então me apaixonei. Pela melancolia em carne e osso - de carne e osso que não possuíam mais vida. E, logo então, o lampejo. A dor destroçada em meio peito corroendo o que lutei para salvar. A mim mesma. E, com os corvos nos umbrais me fitando com seus olhos negros (como demônios zombateiros), um terceiro lampejo. Eu sorria. Não de um sorriso de alegria, mas de uma dor profunda que soou terrivelmente injusta; de uma melancolia grave e sem sentido. Em um lampejo rápido de medo. E, com os ombros encolhidos e com corvos a me fitar sabiamente, soube o que iriam me dizer, antes que eu pudesse ter a oportunidade. Os corvos falaram, em um sussurro mudo,  que se alastrou por todo o quarto. Eles disseram nunca mais.

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