19 de dezembro de 2012

Espera

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Devo ter me antecipado um instante pois, quando cheguei, ela estava acordada. Estava sentada na mesa, com os olhos vidrados em algum ponto cego entre a geladeira e a janela. Suas mãos acariciavam involuntariamente uma caneca fumegante de café, e seus dedos abrigavam um cigarro mal tragado. De certa forma, era como se me esperasse.
Existe aqueles que se jogam em minha direção; que pedem com tanta delicadeza ou de forma tão desesperada que eu os leve, que não posso sucumbir. Eu simplesmente sedo, sem muitas opções. Levo-os em meus braços, procurando compreender quais eram os motivos tão urgentes que fizeram com que eles me buscassem. Logo a mim, que soo tão cruel aos ouvidos dos homens experientes.
De qualquer forma, julgo que ela não seja esse tipo suicida.
Sua tentativa de chamar a minha atenção não foi a mais usual, todavia não menos convincente. Modéstia à parte, estou acostumada com espetáculos. Com belas cartas de despedida escritas em dedos trêmulos, com sangue escorrendo pelo braço, pelos vestígios de uma overdose no canto da boca, pela marca de uma bala no crânio. Definitivamente, essas são as minhas preferidas. Representam todos aqueles que me viram como a luz no fim de seus túneis. Como a única e confiável amiga.
Mas havia algo nela. Algo que a destacava de todas as outras almas que já acolhi. Talvez, os olhos selvagens, cansados. As mãos trêmulas, porém firmes. A forma como quem já estava impaciente. Como havia me esperado por tanto tempo que começou a duvidar da minha existência. Como duvidava da própria capacidade de morrer. Seus olhos se voltaram para perto de onde eu estava parada. Observando. Por um momento, era como se ela me visse. Uma última piada obscena de existência humana.
Então, o coração dela havia parado de bater. E, por um instante, jurei ter visto um sorriso no canto de seus lábios.

Inspirado em trecho de A Menina que Roubava Livros.

30 de novembro de 2012

Uma boa ironia


Lembro-me de ter gostado, no máximo, de dois garotos na minha vida. É claro que eu sou jovem em amplos sentidos; aparência, experiência, mentalidade e ambições. É só meu espírito que está velho. Envelhecendo cem anos a cada dia que se passa. Mas, como dizia, lembro-me de ter gostado de dois garotos na minha vida. Posso até ter ficado afim de diversos outros, nada que ultrapasse uma leve atração. Foram esses dois que me marcaram de formas opostas.
Exatamente, opostas.
O primeiro, qual eu vou me referir pela inicial M., era um ser intelectual. Três anos mais velho que eu, tinha um cabelo que me lembrava Bob Dylan e um papo morno e solitário, mas sempre muito complexo e rico em detalhes. Ele me desprezava. Profundamente. Dizia que eu lhe despertava sentimentos de ódio, e por isso era sempre um prazer conversar comigo. Uma vez, o ouvi admitir que até que não me desprezava tanto assim, e que eu era uma menina legal. Uma menina legal. Lembro-me com precisão de seus olhos baixos e sua voz murmurada, ao fazer a confissão. Como alguém que confessasse a contragosto.
Eu o incomodava todos os dias. Com perguntas aleatórias, frases sem nexo e qualquer outro assunto que fizesse com que ele falasse comigo. Havia algo nele, algo naquele jeito calma e maroto, nas palavras rebuscadas, nos gostos que visavam Woody Allen, Bob Dylan e Tom Jobim, algo naquele misto que sempre procurava me ofender e me ver recuar, algo nele, que me atraia profundamente. E eu me apaixonei perdidamente - ou tão perdidamente quanto uma garota de treze anos poderia se apaixonar por uma rapaz de dezesseis.
Então, ele foi embora. Sem adeus, abraços e adornos. Ele simplesmente partiu. Eu nunca mais o vi. Para ser específica, foi esse carinha que me fez escrever nesse blog, e, para ser exata, todas as minhas postagens do começo do ano anterior foram dedicadas a ele. Dava para ver como eu era completamente imatura em relacionamentos. Eu sofri bastante, depois que ele partiu. A ponto de me remoer e - convenhamos -, chorar na janela como uma cena de um filme ruim. Depois, a dor passou. Foi quando eu conheci o segundo cara.
Ele se chamava H. E surgiu de repente. Sei que o conheci de uma forma improvável, e sei que a nossa amizade foi alvo de desconfiança. Ao contrário do M., não foi uma paixão tiro-e-queda, não foi um rapaz culto, arrogante e certo de si mesmo que fez com que eu me derretesse com apenas um olhar. Foi completamente o contrário.
Para começar, H. me idolatrava. Esse é um bom ponto de partida. Acredito que nunca conheci ninguém tão simpático e desesperado (acredite, não estou usando essa palavra de forma pejorativa) em manter uma amizade. Demorou, mas eu logo me encantei por ele. Foi na primeira madrugada que madrugamos (pleonasmo me lembra dele) juntos, e quando eu disse "Bem, já estou indo." ele respondeu algo como "Já? Fique mais, moça." Eu fiquei.
Essa noite foi seguida por diversas outras, que foram incrementadas apenas com assuntos sem nexo via Skype, sorrisos, composições e todo tipo de conversa que se possa imaginar. Naquele ponto, eu já havia cedido. Estava perdidamente apaixonada por ele - ou pela ideia de tê-lo. Essa amizade chegou em um ponto extremo, onde ele era a única coisa que me motivava a acordar todos os dias. Porque eu sabia que, depois da escola, passaríamos boas horas conversando. Especificamente, até as três. Da manhã.
E, um dia, acabou. Não foi como o M., que, de repente, desapareceu da minha vida. Foi devagar, com um problema técnico aqui, dificuldades ali, e, uma hora, por estarmos cansados. De esperar? Quem sabe. Uma hora, cansou. Mas se seguiu por meses antes que acabasse oficialmente. Ele se apaixonou por outra pessoa, o que é completamente compreensível. Eu mesma não me escolheria.
Vivi meses estranhos, desde então. Julguei ter gostado de pessoas que eu não suportava, só para preencher o vazio que ele me deixou. Procurei em todos os lugares que fui capaz, e até me submeti à algumas situações que levarei para o túmulo. Foi quando desisti de procurar, em uma noite gélida de segunda-feira, que uma resposta irônica me chamou a atenção. Lembro-me de ter sorrido, com a certeza que aquela daria outra boa história. Uma história com direito a nutella. Muita nutella.

13 de novembro de 2012

Por trás de portas


   "A maior faculdade que nossa mente possui é, talvez, a capacidade de lidar com a dor. O pensamento clássico nos ensina sobre as quatro portas da mente, e cada um cruza de acordo com sua necessidade.
   Primeiro, existe a porta do sono. O sono nos oferece uma retirada do mundo e de todo o sofrimento que há nele. Marca a passagem do tempo, dando-nos distanciamento das coisas que nos magoaram. Quando uma pessoa é ferida, não é surpreendente que fique inconsciente. Do mesmo modo, quem ouve uma notícia dramática comumente tem uma vertigem ou desfalece. É a maneira de a mente se proteger da dor - cruzando a primeira porta.
   Segundo, existe a porta do esquecimento. Algumas feridas são profundas demais para cicatrizar, ou profundas demais para cicatrizar depressa. Além disso, muitas lembranças são simplesmente dolorosas e não há cura alguma a realizar. O provérbio "O tempo cura todas as feridas" é falso. O tempo cura a maioria das feridas. As demais ficam escondidas atrás dessa porta.
   Terceiro, existe a porta da loucura. Há momentos em que a mente recebe golpe tão violento que se esconde atrás da insanidade. Ainda que isso não pareça benéfico, é. Há ocasiões em que a realidade não é nada além do penar, e, para fugir desse penar, a mente precisa deixá-la para trás.
   Por último, existe a porta da morte. O último recurso. Nada pode ferir-nos depois de morrermos, ou assim nos disseram."
O Nome do Vento, Patrick Rothfuss, pág. 124

1 de novembro de 2012

Intensidade deliberada



Ilude-se com o menor dos olhares, e encanta-se com a menor forma de atenção que lhe seja demonstrada. Contenta-se com a menor das ofertas, jogando-se (a altura, de fato não importa) como se não houvesse consequência. Prezou uma vida intensa, e teve aquilo que ansiou. Uma vida intensa; de dor. Pagou pelos os pecados com o próprio sangue, jurando que jamais se enganaria novamente. Errou. Errou milhares de vezes, perdendo-se debilmente no narcisismo apresentado, na estupidez alheia, no ato simplório de uma despedida. Não sentia mais prazer no atrito das peles, nos acordes de um violão, nas delicadas cores de uma tela. O prazer estava presente, aqui e acolá, quando acompanhando de uma sala escura, de uma mente sonolenta, de uma solidão demasiada e de um silêncio constante. Sentia prazer quando não estava ciente. Quando a única e completa liberdade lhe era atingida. E, de prazer, morreu.

23 de outubro de 2012

Bloqueio Criativo



Você se levanta. Toma um banho. Bebe um café.
Nada.
Respira fundo. Troca de roupa. Dá uma volta.
Nada.
Toma outro banho. Acende um cigarro. Observa os carros pela janela. Corre os dedos pelos fios de cabelo. Já passou da hora de cortá-los. Liga o som no máximo. Bebe outra xícara de café. Tenta se concentrar. Não consegue tirar os olhos das nuvens brincando no céu, dos carros apressados na rua, da realidade tão distante representada na janela do seu quarto. Não. Se concentrar. Acende um segundo cigarro, só para prevenir. Coloca uma caneta na mão, um caderno no colo.
Nada.
Nenhuma ideia.
Nenhuma mísera ideia.
Suspira. Joga o caderno o mais longe possível. Apaga o cigarro. Volta para a cama de onde não deveria ter saído.

17 de outubro de 2012

Uma Crônica a Cada Esquina


Ontem comprei filme para a minha câmera. Voltei para a casa renovada, olhando cada esquina com uma perspectiva diferente. Um parquinho para crianças, constantemente abandonado e socialmente ignorado, se transformou na mais bela obra de arte para os meus olhos artisticamente aguçados. Fui obrigada a tirar inúmeras fotos, encantada pelas diversas cores e formatos daquele local. Continuei andando para casa, quando me deparo com a inusitada figura de um cachorro. Sujo, despenteado e com a língua para a fora, ele fitava a rua com seus olhos preguiçosos. Era lindo. Mais do que tentada, tirei inúmeras fotos da figura até que ela se entediasse e fosse embora. Meu caminho cruzou, também, com um casal apaixonado. Eles conversavam animadamente, dando gargalhadas e, às vezes, dando as mãos. Não resisti. Ignorei o senso ético de não espionar, e por sinal, não fotografar desconhecidos. Os dois me renderam boas fotos.
Acontece que, antes de poder chegar em casa e desfrutar do resto do meu filme, o pior aconteceu. Ele havia acabado. Estava tão distraída e tão encantada com o universo de possibilidades que se estendeu no momento em que coloquei uma câmera nas mãos, que mal notei que ela era limitada. Não era como essas câmeras digitais, que temos hoje em dia. Não havia cartão de memória, e possibilidade de tirar dez mil fotos. Não havia como apagar, ou como ter certeza que a fotografia estava do jeito que eu queria. Mas, com a tecnologia, que serve, teoricamente, para auxiliar, nós acabamos perdendo a essência do verdadeiro significado da coisa. Ela nos transformou em pessoas automáticas, perfectionistas e com a ideia de que tudo é ilimitado. Então algo tão puro e belo, quanto tirar fotografias pela cidade e observar coisas que geralmente passam por despercebidas, acaba se tornando frio e automático. Nostalgia de tempos em que não vivi, onde computadores existiam apenas em ficções cientificas.

14 de outubro de 2012

A Marcha dos Despertos

Bombardear pela paz é como foder pela virgindade.

Acredito que tudo vem da criação. Da cultura que fomos introduzidos desde cedo. Se fossemos ensinados quando criança que o homem é capaz de voar, acharíamos estupidez de quem tentasse provar o contrário. Se fossemos criados com a ideia de que Zeus é o deus do céu, Poseidon o dos mares e Hades do submundo, seria uma blasfêmia se alguém alegasse que aquelas eram mentiras. Infelizmente, não crescemos em nenhum dos dois contextos.
A realidade apresentada desde cedo, seja pelos nossos pais, seja pela mídia ou por fortes influências, é de que, se houver alguém melhor que você, você não estará feliz. A felicidade apenas será atingida quando nos provarmos valorosos, quando possuirmos nosso poder aquisitivo elevado e uma bela mulher ao nosso lado para, claro, cuidar de nossas casas e filhos. Ah, esqueci de mencionar? Para aquelas que possuíram a má sorte de nascer no sexo feminino, lamento informar que apenas possuíram a felicidade se o homem ao seu lado estiver feliz. Afinal, o que seria a mulher se não o enfeite da sociedade?
Enquanto formos piores que alguém, enquanto estivermos submissos, estaremos infelizes. Estaremos tomando remédios para dormir, nos esforçando desenfreadamente e contando os segundos para que a acabe logo. Acabar? O que? Os dias irritantes de escola? As horas importunas de universidade? Os anos incontáveis de um emprego? A aposentadoria monótona? Afinal, fomos criados na ideologia que as coisas melhorarão. Basta esperar. E que as nossas horas de espera compensem as nossas mentes ocas, tão fiéis a lavagem cerebral sofrida que mal são capazes de pensar por si próprias.
De vez em vez, alguém desperta. Simplesmente se cansa da violência vista na TV, da injustiça racial, do preconceito, da guerra entre os sexos, do sistema corrupto. Um dia, alguém se cansa. E não basta se cansar. Ele percebe que a cultura que foi imposto desde o dia em que nasceu está errada. Que tudo aquilo soa desumano, ridículo, hipócrita. Ele se junta aos outros despertos, com a intenção clara de acordar o maior número de pessoas possíveis. Mas, como citei anteriormente, soa completamente ridículo ir contra o que você foi ensinado. Soa irracional mudar o mundo. E, por sinal, esse é apenas outro detalhe de nossa cultura falha. Você, isso mesmo, leitor, você que segue os olhos por essas vagas linhas, é incapaz de mudar o mundo. Deixe esse fardo para outra pessoa. Não foi isso que nos ensinaram? Não foi isso que nos treinaram para acreditar?
De qualquer forma, os despertos tentam. Eles lutam. Com unhas e dentes. Com os punhos e com cartazes. Com passeatas ínfimas que nuncas resultam em lugar nenhum. Eles tentam. Tentam, enquanto são repreendidos por autoridades. Pelos responsáveis de silenciar os despertos, antes que seu barulho seja alto o suficiente para acordar mais pessoas. Por levá-los, os despertos, para prisões, para psiquiatras, para o exterior, para sessões de torturas ou para qualquer outra forma drástica que for capaz de adormecê-los novamente. Por qualquer lavagem cerebral boa o suficiente para que seus olhos e mentes se fechem.
E, então, voltamos todos a dormir.

13 de outubro de 2012

Silêncio

Eu morro e remorro.
Com o tempo que passa.
Ouço teus passos.
Compasso infernal.

Nasci para a vida.
De morte vivi.
Mas tudo se acaba.
Silêncio. Morri.

7 de outubro de 2012

Epitáfio



Escrevi seu nome, em uma intenção patética de nunca nomeá-lo novamente. E seu rosto, puído, tristonho. De fato, seu rosto. Do jeito que seus olhos brilhantes costumavam me fitar – em um misto de solidão com encanto, em um toque mínimo de desespero. E eu escutava, em silêncio. Estava tão quieta... Por algum motivo, a quietude é o que mais me relaciona a ti. Deixa-me sem palavras, pois nada que eu acrescentasse seria melhor que o silêncio que nos envolvia. Ah, suas mãos geladas! Como ansiei segurar aquele par de mãos novamente, com a esperança de que aqueles olhos tão tristes fossem capazes de esboçar alegria, de que ele sorriso sem graça pudesse traduzir o que seus lábios não disseram. Tudo aquilo construído em uma eternidade, com músicas acústicas em uma madrugada fria, conversas sérias e descontraídas, e risadas que soavam solitárias. Ah, tudo aquilo acabou. Prometo que essas palavras serão as últimas dedicadas a você. Porque tudo aquilo que lhe tornava o que você é, foi embora.  E na desesperada tentativa de se tornar aquilo de que nunca se viu capaz de ser, deixou de ser você mesmo. Sinto falta do antigo você, aquele foi enterrado no passado. Do que era capaz de se contentar com qualquer coisa que superasse sua frustação. Nós nunca fingimos além do necessário, e nunca duvidamos do que sentíamos. Agora, estamos ambos mortos um do outro. Este será nosso epitáfio, enterrado com tudo que costumávamos ser. 

24 de setembro de 2012

Desabafo


O que corre em minhas veias não é sangue.
É chumbo.
É chumbo misturado com desgosto.
Com uma tristeza ínfima que a hipocrisia me permite ter.
E para aqueles que se alimentam do meu sangue.
Para aqueles que bebem da minha alma.
Peço perdão pela má qualidade de meu produto.
E pelo pesar que sinto em meu peito.
Para as memórias outrora felizes.
Para aqueles infelizes que habitam minha mente.
Peço socorro.

21 de setembro de 2012

A menina que brincava com fogo


Eis o que a maior parte das mulheres fez quando foram estupradas: nada. Acredito que não há muito o que fazer. Prestar uma queixa na polícia. Tentar identificar o estuprador, talvez. Isso é o que mulheres ordinárias fariam. Lisbeth pode ser muitas coisas, mas, nem de longe, é ordinária. Após ter sido vítima de um estupro violento, não se deixou abalar. Não se deixou impressionar. Lisbeth ao menos chorou. Passou uma semana inteira investigando maneiras de eliminar seu estuprador - pensou em cianureto de potássio, uma solução letal feita de nicotina e até mesmo em baleá-lo. Quando foi capaz de formular o jeito ideal de vingança, pois o plano em prática. Lisbeth enfiou um pênis de borracha no ânus de seu estuprador. Como se não bastasse ela tatuou, sem muito cuidado, uma frase bastante chamativa no peito do agressor: SOU UM PORCO SÁDICO, UM CANALHA ESTUPRADOR.

Esse episódio define bem o gênio da garota com a tatuagem de dragão. Ela não é exatamente bonita, porém não se importa com isso. Mas se preocupa com a sua imagem. Lisbeth é peculiar na aparência e no coração, e gosta de chamar certa atenção por onde passa. Porque, se há uma coisa que torna Lisbeth Salander em Lisbeth Salander é o fato dela ser um ser individual. Ela parece viver em um vácuo de sociabilidade, e nesse vácuo construiu a própria personalidade peculiar. Nós, em uma sociedade, queremos nossa individualidade, queremos ter uma identidade singular, queremos ser livres das responsabilidades e diversos laços que nos prendem. E Lisbeth é capaz de representar tudo isso. Parece que justamente o fato da sociedade ter-lhe negado tudo, pelos seus semelhantes terem lhe dado as costas, a garota que sonhava com um galão de gasolina e um fósforo parece não ter sentido a necessidade de se enquadrar em qualquer padrão. Lisbeth não acredita em nenhuma forma de justiça ou moral, não acredita nas pessoas e tem dificuldade em deixar qualquer um entrar na sua vida. É fechada e enigmática, e nunca fala de si mesma. E, por isso, pagou um preço tão alto por Mikael Blomkvist, o outro protagonista da história. Ela quer ceder a amizade que lhe é demonstrada, ceder ao carinho e gratidão que o jornalista tem pela garota. Ela é tocada por isso. Mas nunca cede de fato. Quando Salander parece mais forte é quando vemos sua fragilidade. E, de certa forma, também notamos a dificuldade que a hacker tem em lidar com os escassos sentimentos. 


E, por isso, amamos Lisbeth Salander. Por ser capaz de manter os ideais em momentos de crise, por criar o próprio padrão de justiça e encará-lo como uma forma de vida. Amamos Lisbeth porque ela desafia uma sociedade que defende o direito às mulheres, mas que é profundamente violenta e machista. Porque a sua experiência demonstra que laços de sangue não significam nada. Amamos Lisbeth por ter sido capaz de defender o que acredita com um galão de gasolina e uma caixa de fósforos. E, principalmente, porque gostaríamos de ser como ela, um indivíduo que, com a impossibilidade de se enquadrar em uma trajetória normal, traçou sua própria, e solitária, liberdade.

26 de julho de 2012

Um segredo de família



"Já contei a verdade sobre meus pais?" minha mãe propôs o desafio, em uma tarde entediante.
"Verdade?! Que verdade?" respondi exaltada.
"Ah, deixa para lá..."
É uma criatura sádica, minha mãe. Do tipo que gosta de ver a própria filha se contorcendo pelos cantos. De qualquer forma, ela me deixou cogitando todas as possíveis impossibilidades sobre o passado de minha família. Talvez, ela estava prestes a contar algo que eu sempre suspeitei. "Eu sou adotada", "Minha mãe pulou a cerca e meu pai não é meu pai biológico", "Meus pais na verdade são alienígenas, vindo na terra com a intenção de dominá-la. Mas felizmente eu dei um jeito neles, já que sou adotada e uma agente de um grupo especial da CIA..." e outras confissões do gênero.
Mas, talvez, eu apenas estivesse animada com a possibilidade de algo interessante acontecer em minha família. Com exceção dos trabalhos bizarros que meu avô teve em sua adolescência, até se tornar juiz, não há uma só história que se preze. Minha família é entediante. Debilmente entediante.
Porém, não é da falta de entretenimento familiar que estamos lidando, e sim de um segredo de família. Meus avós possuíam uma verdade, o que, por tabela, significava que eles mentiram. Não só para mim, mas para seus filhos, netos e amigos. Eles mentiram sobre algo, e foram pegos no ato. Seja lá qual foi a mentira em questão, eu estava sedenta para descobri-la.
"Mãe" eu chamei quando a vi novamente, na manhã seguinte. "Você disse que iria me contar uma verdade sobre seus pais. Qual era?"
Sua expressão se tornou confusa. Ou ela era uma excelente atriz, ou realmente não sabia do que eu estava falando.
"O que?"
"Você me perguntou ontem se eu sabia a verdade sobre seus pais, e quando eu perguntei, você pediu para eu deixar para lá." eu relatei com desconfiança. "Não se lembra?"
Ela apenas me lançou um longo olhar, e depois foi embora.
Pelos dias que se seguiram, continuei investigando. Cada detalhe era de total importância. Eu revirava álbuns antigos, tentava persuadir os parentes mais próximos sem levantar a pergunta em questão e até cheguei a ligar para minha avó. Depois de quase trinta minutos tentando arrancar a informação, tudo que tive como resultado foram respostas frustantes e uma grande dor de cabeça.
Talvez, meus avós fossem assassinos seriais. Minha mãe não havia resistido ao fazer o comentário comigo pela primeira vez, e depois se arrependeu cruelmente. Não revelou uma sílaba sobre o assunto nas ocasiões seguintes quais eu a abordei. Ou, talvez, meus avós fossem deuses pagães que comiam carne humana em todos os natais, tais como aqueles monstros bizarros da terceira temporada de Supernatural...
Seja lá qual fosse o segredo deles, eu nunca descobriria. As poucas pessoas que o conheciam, se recusariam a me contar, e, qual fosse o segredo, deveria ser algo interessante. Um escândalo, para dizer o mínimo. Eu desejava que assim fosse, só então para encerrar o tédio recorrente nas histórias de família. O segredo seria discutido por gerações, e jamais descansaria, criando o potencial de lenda urbana. Derrotada, me encolhi em um canto do sofá enquanto refletia.
"O que foi?" meu irmão perguntou quando entrou na sala. "Alguém morreu?"
"Não..." murmurei. "Só estou encabulada. Há alguns dias, minha mãe comentou algo sobre segredo dos pais dela, e depois não tocou mais no assunto. Acho que deve ser um assunto confidencial, ou algo do gênero."
Ele me olhou por um momento com ar divertido.
"Então você não sabe?"
O encarei inconformada. Minha mãe havia contado para ele! Logo para ele! E eu? Nada!
"Semana passada meu avô ligou aqui dizendo que cometeu um equivoco" ele continuou quando eu não respondi. "Sobre a data do casamento dele. Meus avós não se casaram em 1964, como acharam todos esses anos. Foi em 1962. Ou seja, esse ano, eles fazem 50 anos de casados. Vão comemorar as bodas de ouro."
Não vi minha expressão, mas, se tivesse, provavelmente ela seria de choque. De decepção. De raiva. Ainda não haveriam história legais em minha família, e minha avó continuaria a repetir a história do pavê ou pacomê, que foi sua mais genial piada do natal de 86. Todos ririam, para não pegar mal. Ririam para não chorar.
"Só não entendo" eu me ouvi dizer, depois que o choque deu lugar a indignação. "Por que minha mãe escondeu de mim?"
"Ah, provavelmente ela esqueceu" Lucas sorriu. "Ou você esquece da mãe que tem?"
Eu assenti, ainda perplexa. Desde esse dia, nunca criei nenhuma expectativa que fosse.

21 de julho de 2012

Situação hipotética



Se houvesse um prêmio para a campeã em afastar amizades, eu ganharia antes mesmo de ser indicada. Não,  ainda não seria o suficiente. O organizador do evento hipotético se veria na obrigação de me chamar, como o verdadeiro Chuck Norris do assunto, para que eu desse uma palestra detalhada para iniciantes sobre a arte de afastar amizades e perder contato. Já até vejo essa competição. Seria um sucesso.
De certo, não sou a única experiente no assunto. Tenho certeza que existe outros milhares que são também especialista em afastar grandes amizades. Se você, caro leitor, estiver em uma situação parecida, não se desespere - sei exatamente o que você está sentindo. Sei como é simplesmente terrível ver aquele amigo tão íntimo se tornar, nada mais, nada menos, que um conhecido. Por esses e outros traumas, passei a criar poucas expectativas quanto a conhecer pessoas novas. 
"Olá! Me chamo Ana" Eu provavelmente digo quando conheço alguém. Não, isso não é verdade. Eu nunca digo nada. Espero o outro tomar a iniciativa - isso se lhe for interessante puxar assunto com a garota quieta e de aparência assustadora. Se ele não tomar, ótimo. Menos um futuro personagem na minha vida para me preocupar. Se ele tomar, ai são outros quinhentos...
"Como você se chama?" Os estranhos costumam perguntar. Acho que deve ser um hábito comum, isso de perguntar nomes. Mesmo quando você não dá a mínima, ou em breve os esquecerá, ou, pior, lembra exatamente o nome da pessoa, mas por estar certo que ouviu errado, tem medo de chamá-la pelo o nome e acabar dizendo-o errado.
"Ana" É o que costumo responder. E não pergunto o nome da pessoa de volta. Em geral, é porque já sei. Pela simples vergonha de fazer a singela pergunta, me torno observadora o suficiente - e, por tabela, otimista -, para esperar e estar atenta quando alguém chamar aquela pessoa pelo o nome. Perguntar o nome do estranho em questão, mesmo que para um conhecido, é sempre constrangedor.
"Ah, nome legal" Não é o que dizem frequentemente. Então, imaginar-ei-nos uma situação hipotética em que esse comentário patético é substituído por qualquer outro. Se, o estranho em questão, fizer algum comentário, desconfie. O simples fato dele ter perguntado o seu nome - é claro, existe o fator educação, mas não acredito que seja o caso da maioria dos estranhos -, revela um interesse na sua pessoa.
Então, querido leitor, somos apresentados para a melhor forma de evitar futuras decepções amorosas, amigáveis ou, que seja. Vamos evitar a decepção em si. Nesse último passo de como afastar amizades, lhe darei minha melhor dica sobre estranhos que se aproximam, da forma que for, de você: fuja.

19 de julho de 2012

Turbulência



Passou-se uma semana. E, por uma semana, a mesma pergunta continuou impertinente em minha cabeça. O que estou fazendo com a minha vida? Como julgar a dúvida? Dramática? Profunda? Enigmática? Clichê? De certa forma, essa pergunta gesticulou de todas as maneiras possíveis - e, às vezes, impossíveis - em minha cabeça. Algumas vezes, eu apenas me debatia e dava gritos abafados contra meu travesseiro, tentando amainar a confusão que ela fazia na minha cabeça. Outras, eu desabafava para ninguém em especial, contando detalhadamente o quanto tudo mudou de um momento para o outro. E, raramente, eu simplesmente sorria, certa que daria um jeito nas coisas.  
Cheguei em um ponto que gritei "pára!". Quando uma piada se repete tantas vezes que, além de perder a graça, se torna um incomodo. Era assim que eu passei a me sentir diante dessa pergunta. E, no meio daquela tempestade no copo d'água, percebi que planejar detalhadamente a minha vida para os próximos - no mínimo - dez anos, não é uma boa escolha. Quando sonhamos, nunca pensamos, de fato, que aquilo um dia se tornará realidade. O sonho é tão distante que mal podemos planejar como tornar tanta coisa real, e quando nos damos conta, nossos trens estão saindo dos trilhos. Mas, por sorte, também aprendi a recolocá-los em outra direção. Mesmo que o destino tenha mudado, ainda é melhor que um acidente ferroviário.
Em geral, continuo a me lamentar, me contorcer e me perguntar o que estou fazendo com a minha vida. Em alguns dias, sei exatamente o que eu quero o que deixo de querer para mim mesma. Outras, mal sou capaz de lembrar meu próprio nome. Mas, sem delongas, quero ser feliz. Independentemente de estar vivendo exatamente aquilo que planejei, quero sempre ter certeza de estar cercada de bons amigos, boa música e estar fazendo aquilo que gosto. O que estou fazendo com a minha vida? Bem, ainda não tenho certeza. Procuro optar pela melhor opção, sempre. 
De certa forma, tenho certeza que me lamentar não foi, nem de longe, a melhor coisa que eu poderia decidir. Erguer o queixo e parar de culpar tudo e todos ao meu redor - e, consequentemente, perceber que tenho uma dosagem de culpa pelo rumo que as coisas tomam -, não é um trabalho simples. É um milhão de vezes mais tentador se encolher em um canto e passar o resto da vida aos prantos (isso sem citar o quanto é tentador por uma arma contra a própria têmpora e puxar o gatilho, mas isso é um assunto para outro texto...) do que admitir que a situação não é das melhores e tentar mudá-la.
Então paro, respiro, e penso em tudo que já planejei e deixei de planejar. Pelas coisas que chorei e hoje apenas me trazem um curto sorriso aos lábios. O que eu costumava achar genial, e, hoje em dia, soam como brincadeira de criança. Das coisas que eu amava, porém hoje são apenas um peso na consciência. A vida não é um esquema. Não é algo que você define e segue deliberadamente, sem tirar nem por. Até que, se fosse, não haveria graça alguma. Não haveria nada que nós não houvéssemos previsto antes. Não haveria uma só turbulência, um imprevisto, uma crise ou qualquer coisa (boa ou ruim) para quebrar nossas rotinas.
Afinal, mesmo não estando certa do que estou fazendo com a minha vida, espero não estar fazendo nenhum grande estrago. Seria um tanto trabalhoso ser obrigada a replanejá-la do começo.

OBS: Estou de volta. Se foi uma boa ou uma má ideia, ainda estou por descobrir.

15 de abril de 2012

Cinzas


De um menino ingênuo que não queria crescer,
A um rapaz que lidava com a vontade de vencer.
Com segredos abstratos em sua própria pele
Com um temor, um ardor, uma chance que se perde.
Sangue e dor por aqueles que se foram,
Ódio e rancor para os que merecem ir.
Com a chance imaginária de conseguir
Redenção? Vingança?
Quem sabe até um dia sorrir.

OBS: Ficarei offline por um bom tempo, e posso até passar meses sem publicar aqui. É apenas um aviso prévio. Apenas isso.

10 de abril de 2012

O Regresso do Inverno

Leve as cinzas de meu pai, sobre o simplório rosto dos antepassados. Leve-as, leve-me.

Ele queria estar em outro lugar. Em qualquer outro lugar. O vento violento rasgando a bela feição de seu rosto, brincando com seus cabelos desalinhados. Sua mão abrigava um medalhão de prata. O carinho do menino pelo próprio objeto era tão intenso quanto o carinho de uma mãe pela sua cria. O sete palmos abertos em frente aos seus olhos o aterrorizavam. Embora ele fosse orgulhoso demais para admitir. Que jeito ridículo de encerrar toda uma existência, pensou. Tantas coisas vividas para acabar como carne podre.

Mas ele se sentia inseguro sobre pensar em seu pai virando carne podre. Logo ele, um menino que admirava tanto o próprio pai. Quando menor, brincava que nada no mundo seria acabar de abatê-lo, e, aquela eterna figura de um homem que ensinou quem aquele garotinho deveria ser. Aquele garotinho cresceu - mas não muito. Nunca foi o mais alto da classe, porém nunca o menor. Era magro e franzino, e não aguentava correr ou jogar qualquer esporte. Independentemente da modalidade, era sempre o último a ser escolhido. Mas nunca se importou muito com aquilo. Era seu pai quem o motivava a deixar de lado a perseguição dos colegas. Era seu pai quem dizia que ele deveria seguir em frente, ser corajoso. Sempre corajoso.

Eu sei o caminho, mas não tenho coragem. Eu não posso sentir medo de meus pecados.

Sua mãe apertava sua mão livre. Às vezes, o aperto era suave, reconfortante. Outras, era doloroso, desesperante. O caixão preto abrigava o corpo sem vida. Descia lentamente para onde residiria pelo o resto da eternidade. As flores de cores alegres por todo o cemitério pareciam zombar da situação, pareciam achar graça na morte. Alguns jogaram buquês sobre o caixão, a mãe do garoto deixou uma foto antiga, em um cartão bege, flutuar lentamente até o corpo de seu marido. O menino estava ciente de que foto era aquela. Era da adolescência de seus pais. Os casal estava sorridente, com as mãos dadas. Ele quis aquela foto para si, mas a mãe insistiu que a foto deveria permanecer com o pai. O menino não protestou. Naquele momento, apenas esticou o próprio braço, e libertou os dedos. O medalhão escorregou pela sua mão, voltando para os braços de seu verdadeiro dono.

Existe um lugar sagrado qual residem as memórias, e eu queria debilmente estar lá.

Continua...

8 de março de 2012

Lobotomia

E de um começo derradeiro à um turbilhão de dúvidas. Uma culpa, um acúmulo. Uma necessidade de se libertar das grandes correntes que nos prendem. Estamos presos, envoltos, sufocados. Tão difícil libertar do próprio peso que afundamos. Afundamos. E a necessidade de mudar, de tornar o sofrimento humano em algo melhor. Dor. A dor psicológica que aflige nossos pensamentos, que manipulam nossas mentes. E então, o ódio. A penúltima etapa. A mais difícil de ser ultrapassada. O ódio te ensina a andar, a comer, a respirar, a viver. O ódio é tudo na vida. A dependência sobre ele se torna viciosa, violenta. Medo. O medo te consome. Não como um novo substituto para a raiva, mas como um grande aliado. Juntos, eles te fazem se arrepender, sofrer, chorar, sangrar.
E então o silêncio. O denso. O intenso. O imenso silêncio.
Principalmente liberdade. Não havia mais dor, sofrimento. Apenas a tão doce insípida liberdade. Nada que nos predesse, nada que nos impedisse. Só vazio. O paraíso.

6 de fevereiro de 2012

Escrava do próprio erro

Ah, certeza, como queria ser tua aliada. Com um sorriso desmanchado, contaria-me verdade. De agora em diante não existiria dúvida. Seria você uma boa amiga? Arrisco dizer que sim, uma vez que deposito minha plena confiança em ti. Confiança pode ser a base de qualquer e toda relação. E, para ser clara, confio em você. Ah, tão doce e solitária amiga! Por que estamos tão sozinhas? Nós choramos e rimos juntas, logo que todo o resto não nos suporta. Afinal, quem desejaria amizade em uma menina de certeza soberana e com um toque demasiado de arrogância? Ninguém, minha querida. Às vezes, choramos. Sim, nós choramos porque nos sentimos sozinhas. Porque eu sinto falta. Falta de errar, pois só então deverei valorizar os acertos. Acertos que hoje são rotina por conta da inegável e relevante certeza. Sinto falta das dúvidas, dos risos (hoje em dia tão raros), das questões, das expectativas e inseguranças. A saudade de um passado que soa tão, tão distante - saudade de ser comum. Ah, certeza, queria eu me livrar de ti.

30 de janeiro de 2012

O destino; e toda a sua malícia

Fazem exatos 30 minutos que estou encarando esse grande quadrado branco sem saber ao certo sobre o que devo escrever. Pensei em lutas, em vingança, em derrota, em amor, em sentimentos, em simplicidade, em coisas complexas. Cada um dos meus planos falharam. Talvez, fosse a hora perfeita para deixar a máscara cair. O momento ideal de transparecer o rosto por trás de toda essa armação. Esse rosto é humano. É feito de carne, osso e pele. E, como todo humano, essa identidade, há pouco desconhecida, tinha total e pleno direito de errar. De tropeçar. De cometer erros. Esse humano, por tanto tempo desprezível, deveria ter uma história. Algo interessante e dramático, que pudesse, só então, justificar cada um de seus atos psicóticos. Mas não havia nada. Não havia uma única morte violenta. Não havia uma justa causa de vingança. Não havia simplesmente nada. Apenas uma mente doente, um traço psicodélico em seu olhar. Então, a máscara deslizou novamente sobre seu rosto. Às vezes, o grande fingimento é a justificava em si. Estava crente nisso.