19 de janeiro de 2013

Nós




Era um garoto com um punhado de nós. Eles estavam em seus cabelos, dedos, braços, pernas e olhos. Os nós espreitavam suas palavras, enfurnavam seus pensamentos e prendia, bem atado, suas vontades. Quando era conveniente, ele procurava desmanchá-los. Mas era sempre inútil. Os nós tendiam a se emendar e crescer, uns nos outros, até serem maiores do que o tamanho de um punho fechado. Mesmo assim, eu gostava desse garoto. Contava-lhe os nós até ele adormecer, e os desatava para não o acordar. Só quando eles se emendavam e embaralhavam, era que ele acordava. Ficávamos então sem nos mexermos, os dois, à espera que os nós parassem e se acalmassem. E era assim, todas as noites, até que voltássemos ao princípio.

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