17 de outubro de 2012

Uma Crônica a Cada Esquina


Ontem comprei filme para a minha câmera. Voltei para a casa renovada, olhando cada esquina com uma perspectiva diferente. Um parquinho para crianças, constantemente abandonado e socialmente ignorado, se transformou na mais bela obra de arte para os meus olhos artisticamente aguçados. Fui obrigada a tirar inúmeras fotos, encantada pelas diversas cores e formatos daquele local. Continuei andando para casa, quando me deparo com a inusitada figura de um cachorro. Sujo, despenteado e com a língua para a fora, ele fitava a rua com seus olhos preguiçosos. Era lindo. Mais do que tentada, tirei inúmeras fotos da figura até que ela se entediasse e fosse embora. Meu caminho cruzou, também, com um casal apaixonado. Eles conversavam animadamente, dando gargalhadas e, às vezes, dando as mãos. Não resisti. Ignorei o senso ético de não espionar, e por sinal, não fotografar desconhecidos. Os dois me renderam boas fotos.
Acontece que, antes de poder chegar em casa e desfrutar do resto do meu filme, o pior aconteceu. Ele havia acabado. Estava tão distraída e tão encantada com o universo de possibilidades que se estendeu no momento em que coloquei uma câmera nas mãos, que mal notei que ela era limitada. Não era como essas câmeras digitais, que temos hoje em dia. Não havia cartão de memória, e possibilidade de tirar dez mil fotos. Não havia como apagar, ou como ter certeza que a fotografia estava do jeito que eu queria. Mas, com a tecnologia, que serve, teoricamente, para auxiliar, nós acabamos perdendo a essência do verdadeiro significado da coisa. Ela nos transformou em pessoas automáticas, perfectionistas e com a ideia de que tudo é ilimitado. Então algo tão puro e belo, quanto tirar fotografias pela cidade e observar coisas que geralmente passam por despercebidas, acaba se tornando frio e automático. Nostalgia de tempos em que não vivi, onde computadores existiam apenas em ficções cientificas.

Um comentário:

Carol disse...

E verdade, a gente ta perdendo a essencia. As vezes tambem penso no tanto de coisas que perdemos com a chegada da tecnologia. Otima reflexao.
Beijos, Cat.
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